quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O SUSTENTAR DA EDUCAÇÃO

Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas
e pessoas transformam o mundo.”
Paulo Freire
Gustavo Ferreira da Costa Lima, procura identificar e mapear as principais concepções éticas, políticas e pedagógicas que orientavam as propostas de educação ambiental. Seu trabalho visa discutir a relação entre a educação, a sustentabilidade e a democracia em diálogo com a proposta de Educação para o Desenvolvimento Sustentável - EDS protagonizada pela UNESCO. Trata-se, portanto, de debater e explicitar projetos e intenções sócio-educativas e de recuperar a diversidade de visões de mundo, de sociedade e de educação que podemos desejar e construir solidariamente. Para atingir esse objetivo o artigo dialoga com os referenciais teóricos da Ecologia Política e da Tradição Crítica e organiza a reflexão em dois momentos principais: no primeiro formula uma crítica do que considera os aspectos problemáticos da referida proposta e no segundo explora as possibilidades de avançar numa relação entre a educação e a sustentabilidade onde a democracia participativa, a sociedade civil e suas dimensões ética e política sejam contempladas e fortalecidas, lembrando que sustentabilidade é a capacidade que um indivíduo, ou um grupo, ou uma empresa tem de se manterem inseridos num ambiente, sem, contudo, prejudicar este meio, capacidade de usar recursos naturais, e de alguma forma, devolvê-los ao ambiente através de práticas desenvolvidas para este fim, é importante saber que o uso de práticas sustentáveis na vida de cada indivíduo é um fator decisivo para sobrevivência da humanidade, e para que continue existindo recursos naturais.
A visão de Paulo Freire a respeito da Educação e da sociedade capitalista vai ao encontro das críticas presentes no texto de Gustavo Ferreira, uma vez que para este autor o discurso sobre sustentabilidade, educação sustentável, proferidos pelo Estado e pelas organizações não são coerentes com a realidade, ou melhor, com suas ações que se mostram superficiais, não “atacando” as desigualdades sociais (fala-se muito e pouco se faz), entre outros graves problemas enfrentados pela humanidade.
O Mestre Paulo Freire, em sua obra Pedagogia do Oprimido, nos mostra que uma sociedade é livre quando há a extinção da relação de opressão estabelecida no sistema capitalista. Para Paulo Freire, a libertação dos opressores é consequência da movimentação e conscientização dos oprimidos, sendo o elo propulsor para construir uma sociedade de iguais – uma sociedade sustentável em todos os aspectos. A educação integral, libertária, progressista, proposta por Freire, tem o papel central de levar o oprimido a tomar consciência de sua situação e buscar a própria liberdade bem como a de seu opressor. Para tal, propõe que o educador conheça em profundidade cada comunidade que irá educar, conheça a realidade e as palavras que são significativas para cada grupo de pessoas.
A eco pedagogia é uma pedagogia da vivência cotidiana com o outro, portanto, democrática e solidária. A pedagogia tradicional centra-se na espiritualidade, a pedagogia da escola nova, na democracia e a tecnicista, na neutralidade científica. A eco pedagogia centra-se na relação entre os sujeitos que aprendem juntos “em comunhão” na expressão de Paulo Freire. A eco pedagogia é um movimento que ocorre muito mais fora da escola do que dentro dela, tentando suprir uma lacuna que a educação ambiental deixou ao se limitar ao ambiente externo, ao deixar de confrontar os valores sociais e ao não por em questão o aspecto político da educação e do conhecimento. A sustentabilidade é um princípio reorientador da educação e principalmente dos currículos, objetivos e métodos. A educação sustentável não se preocupa apenas com uma relação saudável com o meio ambiente, mas com o sentido mais profundo do que fazemos com a nossa existência, a partir da vida cotidiana. A pedagogia do oprimido de Paulo Freire alertava que há mais de 40 anos que os sistemas de vida da Terra estavam sofrendo grandes estragos a ponto de perderam a capacidade de sustentar a vida no planeta. “Se quisermos adotar uma pedagogia que produza valores de sustentabilidade, o pensamento de Freire deve ser estendido para incluir a libertação do mundo natural”. Paulo Freire cita: “A consciência do opressor tende a transformar tudo a seu redor em um objeto de sua dominação. A terra, a propriedade, a produção, as criações das pessoas, as próprias pessoas, o tempo – tudo é reduzido à condição de objetos a sua disposição”. Paulo Freire tinha essa consciência alargada do mundo, como podemos constatar no mesmo livro (FREIRE, 1975:94) quando afirma que “o amor é compromisso com os homens. Onde quer que estejam esses oprimidos, o ato de amor está em comprometer-se com sua causa”. Conclui-se que “este modelo curricular é essencial se quisermos fornecer aos estudantes o conhecimento, as habilidades e a consciência crítica necessária não apenas para a justiça ou a eficácia social, preocupações importantes da teoria curricular, mas também para a realização da verdadeira liberdade, comunidade e sustentabilidade da Terra e suas formas de vida”.
Portanto, consideramos que a concepção de Educação de Paulo Freire é a Educação Ambiental proposta por Gustavo Lima, é àquela que pode contribuir de forma eficaz e eficiente para a construção da Sociedade do futuro - uma sociedade mais justa, onde os valores éticos, de cooperação, de respeito, solidariedade faça parte da vida de todos, e o cidadão esteja desperto para a valorização de si mesmo e do outro, para que suas ações sejam a favor da VIDA e não o contrário. Os textos em análise remeteram-nos de imediato ao texto poético de João Cabral de Melo Neto, que nos faz refletir que, no contexto da Educação, um “único canto não é capaz de trazer luz e anular a escuridão é necessário que o galo convoque todos os demais, para que juntos possam tecer “a manhã”, metaforicamente representando “ O AMANHÔ, numa clara alusão ao FUTURO.
Tecendo a Manhã
João Cabral de Melo Neto

Um galo sozinho não tece a manhã:
ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão".

Grupo Odisséia

Nenhum comentário: